sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Esperando chegar...

Lavaram demais o queijo. Adoçaram demais o café. Deixaram a torneira aberta e não levaram os óculos pro homem que precisa ler e mal enxergava.

Ficou a ver os pés secos porque não teve coragem de nadar pelado.

Nu, como veio ao mundo. Quente como se merecesse o inferno.

E todo mudo dizia em pensar. E toda estátua fazia a pose que sabia fazer. E falavam as bocas em volta de seus ouvidos cintilantes:

"A boba nasceu pra ficar parada."

Até o mudo de alguma forma também dizia  mal da estátua.

Tudo saiu do lugar no momento em que abri os olhos e não reconheci onde estava. Não existia mais o bolso pra esconder as mãos. Não existiam dedos pra guardar anel.

Vestiram minha alma com a roupa que meu corpo usava. E meu corpo eu não via. Não tinha espelho nem reflexo no olhos dos outros.

Cadê o outro lado? Cadê a estatua de ferra que não te voz? Cadê os cachorros sem dono e a minha casa?

No bloco não tinha ninguém que soubesse cantar e tocar. Todos gritavam por nomes e não se reconheciam pela voz;

nem pela alma.

Ainda esperava alguém que soubesse explicar,
Ainda
esperavam o bloco passar... e já nem era mais carnaval.



BRU

[ A esperar alguém que limpe a sujeira que o quebrar da caneca fez.. Tem café por todo quarto. Esse alguém sou eu. ]

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